***
Olha, escute bem, por favor do meu pensar:
Sexo é poder que se manifesta no seduzir.
Já o amor é arr...
- Ninguém ama ninguém, Pita!
Ama sim, Sá!
Eu só preciso concluir o meu pensar,
você há de compreender a lógica da minha cabeça.
Fale então, Pita!
Não ligue para o meu desamor,
minha falta de crença nessa desafortunada palavra.
Pois bem, escute minha mente.
Amor é arreganhar o que a gente sente e pensa
de caso pensado, de bom grado.
E quem faz isso, minha velha amiga?
Quem quer abrir o peito e mostrar seu próprio
universo?
Quem há de se rasgar assim?
E é aí que mora a minha dúvida e o meu pesquisar.
Se amar é um mergulho no universo de outrem e deste em si,
seduzir é capturar, encapsular o desejado,
manifestação de astúcia e poder herculano.
Amar são fogos de artifícios, anúncio, boa nova.
Seduzir é segredo, gaiola dourada, letras miúdas de um contrato.
Entendi foi nada, Pita!
Parece mesmo que você tá dizendo é uma confusão
grande que nem Golias.
Abrevia, comadre.
Eu entendi há pouco tudo isso...
Devera, não sei bem explicar a parte duvidosa
do meu pensar.
É só que tem uma vozinha cochichando aqui dentro
que só se vive o amor quando se desapega do poder sentido
naqueles dias primeiros da sedução que captura.
Cê tá é dizendo que se a gente vai amar tem que...
- Tem que nada, Mulher!
Faça você como bem quiser.
Eu agradeço a escuta: é no falar
que o pensar transmuta em carne.
Dá nada não, Pita!
Ouvido tá no mundo para escutar.
Mas cê bem que podia arregimentar
os termos do pensamento.
Pois amor é assunto que nenhum filho de
deus cansa de buscar entendimento.