Preparando uma aula de sociologia sobre movimento feminista para a galerinha do 3º ano do ensino médio comecei a pensar em exemplos para falar sobre comportamento feminino e comportamento masculino visto como padrão. Daí pensei em falar um pouco sobre violência doméstica, patriarcado, dominação masculina e deu certo. Durante a aula chegamos até o fato de o homem falar tanto de brigas, de ficar se gabando sobre dar porrada e etc. e tal.
E chegamos à um tipo de “normalidade” em brigas masculinas que seria: homem quando se sente ofendido por outro homem ele dá porrada; pensa em subjugar o corpo, em destruir o físico do outro, em dar porrada até ver o outro homem sem condições de sair do chão, muitas vezes saem em grupo, para destruir o outro rapidamente e evitar a possibilidade que ele saia machucado e tenha que admitir que ele também apanhou durante a briga. Dentro desse tipo “normal” fica evidente uma necessidade de exercer poder sobre o corpo do outro, em silêncio. A humilhação do outro vai ocorrer quando o corpo do outro receber olhares e puder ser constatado que ele é mais fraco do que alguém.
Mas aí pensamos: Mulheres também brigam. ![]()
Chegamos também à um tipo de “normalidade” em brigas femininas, em que as mulheres costumam gritar, evidenciar enquanto brigam o motivo da briga, coisas do tipo: - “Vagabunda! Você vai aprender a não mexer com o homem de outra”. Então o ataque não é tão físico, é uma bagunça e um barulho que destrua a moral da outra, destrua a sua ‘imagem’, que evidencie que aquela com quem brigo merece ser estigmatizada, mantida longe do grupo, pois ela não merece confiança, é indigna e amoral. É, portanto, uma agressão moral.
A mulher não quer provar que é mais forte fisicamente do que a outra, que tem mais capacidade de subjugar o corpo da outra, mas quer que seu círculo social conheça o motivo que levou a esse ato.
Chegamos a conclusão na sala de que até a construção social sobre como se deve brigar depende de com qual sistema reprodutor nasceu. Meninos vão aprender socialmente a “brigar como homem” e as meninas vão aprender a não brigar, pois isso é coisa de meninos. Cheguei a ouvir em sala que achavam que não, que era biológico mesmo e que brigar era como um instinto do homem. Instinto?? Eu sou uma aspirante a antropóloga, não venha me falar sobre atitudes instintivas. Nem sempre o homem briga sozinho, algumas vezes briga em bando. E muitas vezes só conseguem subjugar o corpo do outro homem se estiverem em bando, se não também apanharia muito. Então as mulheres também poderiam aprender a dar porrada em grupo, ligar para as amigas para pegar a “vagabunda” em um beco qualquer e destruir seu belo rostinho (isso eu nunca vi e nem nunca ouvi falar entre mulheres), mas não, as mulheres ainda preferem o escândalo, o gritar para todos o porquê de estar estapeando a outra. Aí sim, quando a outra passar no meio de todos vai saber que a outra venceu, pois quem a olha diz com os olhos “vagabunda! Mereceu a surra que levou”, mesmo se a “dona da briga” tiver apanhado mais.
Normatividade das atitudes de homens e mulheres é algo que constantemente me atrai. Muitas vezes tenho muita pena dos homens, pois minha reflexão me leva a crer que o fardo normativo pelo qual eles passam são muito mais pesados do que o fardo normativo da mulher. Mas eu acredito que isso está mudando e [re]mudando. Espero que eu possa presenciar um período bacana, às vezes eu sinto que está próximo, porém depois eu penso que está tão longe de acontecer.
Eu gosto de reinventar!
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Cass
ResponderExcluirMeu medo é que mude para pior... Que as mulheres comecem a dar porrada também.
Mas sim, concordo demais com você. A mulher quer humilhar pela moral, o homem pela força bruta. (Tirando os intelectuais, que confiam mais em seus argumentos.)
Beijos,
Deb.