Comprei um livro em um sebo, um livro de antropologia que chama “O Negócio do Michê” do Nestor Perlongher. Dentro do livro veio uma cópia de um recorte de jornal. E eu fiquei espantada com o recorte, pois já são 20 anos desde tal publicação e não há novidade e nem mudança nas posições referentes ao que lá contém. Por isso, resolvi transcrever a matéria escrita pelo José Simão, com muito humor, mas cheio de petelecos na orelha.
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Folha de S. Paulo – Quarta-Feira, 27 de novembro de 1991
E bicha incubada é chata até em Cuba
Psicólogo evangélico diz que cura ‘vício gay’, mas ele não sabe que ‘uma vez Flamengo, sempre Flamengo’
José Simão - Da equipe de articulistas
Bichas de armário enrustido, uni-vos! Tão querendo acabar com a alegria do “mundo alegre”. É um psicólogo evangélico que diz que cura “vício gay”. Ah, é? E qual é o tratamento? Entra de salto agulha e sai dando sova de pinto em piranha e quebrando quarto de motel?!
E como é o nome dele? Dr. Ageu. Ageu?! Então ele não quer se vingar das bichas, quer se vingar do mundo! E a gayzada se vinga dele: faz macumba na porta do consultório. Evangélico tem pavor de orixá!
Dr. Ageu Errado diz que homossexualismo não é doença ne
m opção, é obsessão! Já sei, a bicha não quer, não quer e quando vai ver já tá lá na caneca de Prata. Fazendo hora pra Marquês de Itu. E charme pro Marquês de Sade!
E Renata Rangel abre sua excelente reportagem na Folha sobre o dr. Ageu quase assim: ele diz que cura “vício gay” contrariando as massas: “Uma vez Flamengo, sempre Flamengo”. E a gayzada grita: “Aqui em casa a gente é Flamengo até morrer!”
Ele anuncia: “Os homos
sexuais podem mudar”. Pra São Francisco! I left my heart in San Francisco. And my fiofó no HS! Uau! E 30% da clientela é gay. Xiiii, imagine o quebra louça na sala de espera!
E o dr. Ageu Erradíssimo diz que curou uma bicha que até se casou. “Fui padrinho”. Ah, que coisa imoral! E criar bigode faz parte do tratamento? Bigode pra desembarcar em Cuba. Bicha incubado só em Cuba! Em Cuba de Fidel ou em cuba de gelo!
E o dr. Ageu Erradérrimo diz que tem três fatores para eclosão do homossexualismo: 1) Pais repressivos. E o gay: “Meus pais não eram repressivos. Até incentivavam a minha carreira de detetive, toda vez que minha mãe escondia o batom eu achava!”
2) Pais ausente. E o gay: “Torcia pro meu pai ser ausente, mas ele tava sempre lá enchendo o saco!” 3) Pai ou mãe alcoólatra. E o gay: “Minha mãe nunca foi chegada numa birita. Só em Hollywood, pra emagrecer!” Rarará. Não sou defensor das bichas. Mas é melhor que os marcianos invadam a terra. E não os moralistas!
E bicha não morre, vira purpurina. A não ser bicha burra. Que já nasce morta. Em porta de consultório!
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E eu digo o mesmo que o Zé Simão disse em 1991:
É melhor que os marcianos invadam a terra. E não os moralistas!

“Bicha não morre, filha, bicha vira purpurina”.
Trecho do documentário Dzi Croquettes – produzido por Tatiana Issa e Raphael Alvarez
#ficaadica
See u!
Muito melhor os marcianos!!
ResponderExcluirApesar de não gostar de nada que amarre. Enfim, acho que seres humanos amam e sentem atração por outros seres humanos. Simples assim. Essa de nomear, sou gay, sou hetero e não mudo só restringe...
Estou hetero até hoje, amanhã, sei lá... sem essa de decidir pra sempre, né? Pra sempre é muuuito tempo!
Adorei, Cassi
Isso mesmo, Rosana.
ResponderExcluirNo doc. Dzi Croquettes eles dizem no espetáculo que não são nem homens e nem mulheres, são gente!
E é isso que devemos ser sempre, GENTE!
bjinhos!!